Caxias perde o ícone da musicalidade nordestina

Sanfoneira Tininha morre aos 90 anos de idade

Por Mano Santos

Ela estava à frente de sua época, rompeu barreiras e quebrou tabus, enfrentou obstáculos e adentrou no mundo das melodias, até então dominado pelo machismo. Ao citarmos Eglantine Gomes de Sousa, pouca gente saberá de quem estamos falando, mas, no mundo da musicalidade de época, milhares de pessoas dançaram, curtiram, ouviram e até cantaram composições tocadas e interpretadas por Tininha e seu Conjunto. Hoje (9), a música nordestina, de som agudo e ritmo frenético do acordeom, amanheceu de luto, Tininha morreu aos 90 anos de idade, vitima de falência múltipla dos órgãos.
Em mais de 50 anos de estrada no campo musical, Tininha fez história nos estados do Maranhão e Piauí e se transformou em um ícone de uma geração que era embalada por festas no estilo interiorano, ‘onde subia poeira no salão e o sanfoneiro animava o povão até o dia clarear’. Onde os seguranças nas portas dos bailes, garantiam a tranqüilidade armados com facas nas cinturas e a bebida da moda era a pinga.
Era uma época onde boa pinta significava homem ou mulher bonita, os carros não passavam de calhambeques, e se você recusava dançar com alguém era só dar tábua, no entanto o que rolava no salão era ziriguidum de casais a bailar.
Recentemente, Tininha foi homenageada pelo Instituto Histórico e Geográfico de Caxias – IHGC. Uma medalha de honra ao mérito para a mulher que fez da música mais do que uma opção profissional, uma terapia para a alma, um presente para o corpo, uma filosofia de vida; legados que renderam seguidores, na maioria homens, alguns chegaram a dividir o palco com ela, outros se inspiraram de uma maneira a tentam repetir minuciosamente os ensinamentos da diva.

Mas a história de Tininha não se resumiu às festanças. Primeiro foi preciso enfrentar os olhares atravessados do pai, Sr. Domingues, que ora não aceitava a opção da filha, entusiasmada pelo mundo musicista. Tininha se espelhava em feras do Serão Brasileiro como Jackson do Pandeiro Sivuca e Luiz Gonzaga. Incentivada pela mãe, dona Jesuína, Eglantine, ou melhor, Tininha começara a arranhar sons, no ano de 1944, com uma Sanfona de 60 Baixos, difícil de ser dominada, mas que acabou não sendo obstáculo para ela.
No ano de 1945, quando o mundo dava graças ao fim da Segunda Guerra Mundial; Tininha encontrou outra maneira de dizer que a vida é o melhor presente de Deus. Com o dinheiro que juntou trabalhando no Armazém Babilônia, da família JD Silva, comprou uma sanfona, zabumba triângulo e formou um Conjunto, que claro, tinha a sua marca.
Respeitando as proporções de épocas, Tininha e Seu Conjunto arrastavam multidões para o forrobodó. Nas quintas de povoados do Maranhão e Piauí, seja na capital ou até mesmo no interior, o povo se divertia no arrasta-pé.
Para Tininha o importante era garantir a diversão dos dançarinos. As festas sempre abarrotadas se multiplicaram na região. Ela foi ganhando fama, dinheiro nem tanto, pagavam-se muito pouco para tanta originalidade. De inaugurações de obras públicas até comícios eleitorais, o Conjunto de Tininha estava presente em quase todas as ocasiões.
Fitas K-7 e LP’s começaram a difundir cada vez mais o seu trabalho. Ela mesma recorda em entrevista ao Jornal o Imparcial de dezembro de 2008, que chegou a tocar em lugares inusitados, como por exemplo, na década de 80, ao “invadir” a aldeia Guajajara na cidade de Barra do Corda. “Os índios não entendiam muito o que estava acontecendo. Alguns ficavam se encostando uns nos outros, não sei se por medo ou surpresos, o importante é que eu toquei”, frisou.
Tininha também ficou famosa por uma atitude impensada para a época, ela reunia várias mulheres descompromissadas e as levava para as festas, a fim de aumentar o número de dançantes, eram uma maneira também de atrair o público masculino. “Eu dizia a elas; vocês podem até cair no mato com eles, mas na hora da festa tem que está no ponto para dançar”, lembrou.
Tininha sendo homenageada no IHGC

Tininha completava uma lista de dez irmãos. Ela nunca se casou, não teve filhos, apenas um neto, de nome Alan, que criou como se fora primogênito. Já cansada e curtindo a velhice, vivendo de aposentadoria, ela deixou de tocar por volta de 1995. Desfez-se do seu patrimônio musical, o Conjunto. Uma de suas sanfonas está até hoje em poder de um de seus irmãos, virou relíquia; a outra, ela mesma deu a um pedinte.



Tininha (Nasceu em 7/7/1921)
             (Faleceu  em 9/8/2011)



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1 comments:

  1. Apesar de esta ser uma noticia triste em relação ao falecimento da tininha. Você está de parabens pela belissima redação sobre a trajetória de vida da Sra. tininha.

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