Alunos do Maranhão são alvo de ofensas racistas no RJ e reitor lamenta


Alunos do Instituto Federal do Maranhão foram alvo de ofensas racistas durante o III Encontro Nacional de Núcleo de Estudos Afro-brasileiros e Indígenas (Enneabi), no campus do Instituto Federal Fluminense (IFF), em Campos dos Goytacazes, no Norte do Estado do Rio. Em entrevista à imprensa local, estudantes relataram que foram xingados de "macacos", "macumbeiros" e "gorilas" por alunos do IFF. O reitor do Instituto Federal Fluminense, Jefferson de Azevedo, pediu desculpas pelo ocorrido.


Revoltados, estudantes fizeram uma manifestação de repúdio aos casos de racismo no campus da instituição, na quinta-feira, último dia do Enneabi. Segundo o site do IFF, integrantes da equipe gestora do campus Centro, da Reitoria, educadores maranhenses e integrantes da organização do III Enneabi se reuniram, também na quinta-feira, para discutir medidas a serem tomadas. Segundo Azevedo, a instituição está tentando identificar os autores das atitudes racistas.

— É um conjunto de casos, alguns mais graves e outros mais sorrateiros, com dificuldade de investigação. Os próprios meninos têm dificuldade de identificar os autores porque não conhecem as pessoas, mas não vamos abrir mão da apuração dos casos. Estamos aguardando relatos mais detalhados dos alunos e professores do Maranhão. Também estamos vendo uma série de medidas para tratar as questões dos direitos humanos em vários aspectos — disse o reitor, por telefone ao GLOBO. Outra medida que será adotada pela escola é a organização de ações educacionais de conscientização sobre direitos humanos. A ideia, segundo o reitor, é fortalecer o estudo dos mais variados temas. — Percebemos que temos uma caminhada longa, a grande tônica vai ser fortalecer a formação das pessoas nesse aspecto. Vamos intensificar os cursos de formação continuada dos servidores e fortalecer os núcleos de estudos afrobrasileiros e de questões de gênero — disse

Num vídeo compartilhado pelo Facebook, o reitor Jefferson de Azevedo disse que não vai admitir que as manifestações racistas "maculem a reputação e a história" de Campos dos Goytacazes. "A nossa instituição, os institutos federais, são espaços de oportunidade, mudança de postura e tenho certeza que o o que aconteceu coloca para nós um grande desafio. (...) A nossa escola é uma escola que transforma vidas e todos são bem-vindos porque aqui é o local de um futuro melhor, da transformação de uma nova geração. Temos que dar não bem alto a qualquer estigma, a qualquer ato de violência física ou simbólica", disse. 

Em nota, o Instituto Federal Fluminense também repudiou os casos de racismo. 

VEJA A ÍNTEGRA DA FALA DO REITOR SOBRE O CASO 

"Quero dirigir essas palavras aos nossos queridos estudantes do Instituto Federal do Maranhão. Quero primeiro pedir desculpas. Desculpas porque o que aconteceu não representa a comunidade de estudantes e de servidores do Instituto Federal Fluminense. Vi agora uma manifestação belíssima, onde a nossa comunidade, de maneira multo altiva, está bradando em sons bem altos que não admitimos o desrespeito e a não valorização da riqueza, da diversidade, da possibilidade de crescimento conjunto e de mãos dadas. Não estou nesse momento com vocês, mas estou muito bem representado por todos os colegas, servidores e gestores dessa casa e por meio dos nossos estudantes, que os conheço muito bem. E faço questão de estar fazendo esse vídeo aqui onde está dizendo que o Rio de Janeiro está sempre de braços abertos como o Cristo Redentor, que nos simboliza. 

Não vamos admitir que situações como essa maculem a reputação e a história de uma terra tão sofrida como a de Campos dos Goytacazes, marcada pela escravidão, marcada pela pobreza, marcada pela injustiça, mas também marcada por homens e mulheres que enfrentaram situações adversas e estão ajudando a superar. E a nossa instituição, os institutos federais, são espaços de oportunidade, mudança de postura e tenho certeza que o o que aconteceu coloca para nós um grande desafio. De tentar levar a consciência e educar todos os nossos jovens e servidores de que a riqueza da vida é a construção conjunta de um futuro melhor para todos. 

Estarei daqui a pouco ai, com todos vocês, mas me uno à esses meninos e meninas, que de tão longe vieram para apresentar o que têm de melhor e, infelizmente, num episódio que para mim não pode ser caracterizado como a postura majoritária da história e dessa comunidade que eu tanto conheço. E a todos vocês estudantes dessa escola e servidores dessa escola, obrigado por estarem se manifestando e se colocando. E vamos olhar isso como um desafio, vamos tentar entender e acolher esses meninos ou meninas que por acaso tenham feito essa ato tão covarde, tão desleal e olhar isso como um desafio para que a gente também possa levar a eles e chamá-los para viver numa comunidade generosa, solidária e de transformação vivida: os institutos federais. 

A nossa escola é uma escola que transforma vidas e todos são bem-vindos porque aqui é o local de um futuro melhor, da transformação de uma nova geração. Temos que dar não bem alto a qualquer estigma, a qualquer ato de violência física ou simbólica. Talvez as simbólicas sejam as mais fortes e que mexem mais o nosso coração. Sejam muito bem vindos caríssimos estudantes, servidores, professores do Instituto Federal do Maranhão. E mais uma vez, peço desculpas por talvez essas pessoas que não têm ciência ou consciência da gravidade do que fizeram. Mas vamos superar juntos isso, enfrentar isso porque talvez isso é uma demonstração de que muito ainda temos que caminhar em nossa sociedade, muito temos que caminhar com a educação. 

O povo brasileiro precisa de educação que faça diferença e que transforme a vida de cada um para um futuro melhor para todos. Um fraternal e carinhoso abraço, espero estar muito em breve com vocês para que a gente possa tirar de vez e virar essa página da nossa sociedade. Não é possível conviver com isso, temos que viver com a esperança, com a possibilidade de mudança, com a certeza de que o amanhã vai ser melhor do que hoje. Muito obrigado e um forte abraço a todos 

VEJA A ÍNTEGRA DA NOTA DO INSTITUTO FEDERAL FLUMINENSE

"O Instituto Federal Fluminense vem a público manifestar repúdio aos possíveis atos discriminatórios praticados contra estudantes e educadores do Instituto Federal do Maranhão, que estão alojados no Campus Campos Centro, para participação no Terceiro Encontro Nacional de Núcleos de Estudos Afrobrasileiros e Indígenas e grupos correlatos da Rede Federal de Educação Profissional e Tecnológica. Tais atitudes não representam a comunidade de estudantes e servidores do IFFluminense. 

Não admitimos o desrespeito e a não-valorização da riqueza da diversidade dentro da instituição, e atitudes como as ocorridas maculam a reputação e a história de uma terra sofrida como Campos dos Goytacazes, marcada pela escravidão, pela pobreza, pela injustiça, mas também marcada por histórias de lutas e de brava gente. Somos expressamente contra qualquer ato de violência. 

E reafirmamos que o IFFluminense é um espaço de transformação de vidas, uma instituição de oportunidades e onde todos são bem-vindos. O que aconteceu se coloca como um grande desafio para todos nós, de levar consciência e educação para nossos estudantes e servidores, mostrando que temos muito a caminhar enquanto sociedade."


O Globo

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